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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Confissão de Merrow.

Esta bem, eu concordo, estamos melhor assim. Pelo menos me sinto mais leve nos últimos meses. Aquela última palavra foi o balde de água doce, o soco no estômago, a facada no peito, o tapa na cara. Mas o tapa mais necessário. Sem isso eu não enxergaria de fora tantos equívocos feitos por mim, lá dentro do que possivelmente fomos nós. Quando se ama uma vez, isso nunca morre mesmo, o que morre são as pessoas dentro de nós, não é?  Durante toda a vida. Só que a pessoa que te ama aqui dentro insiste em ficar viva, então eu tenho que injetar diariamente um sonífero na veia dela, assim da pra aliviar um pouco esse peso que é a saudade. É claro que sinto vontade de contar-te as novidades, compartilhar recentes realizações, talvez nem todas te animaria, mas essas não existiriam se estivesses aqui. Porém, isso não importa, o que aconteceu não muda e o jeito é viver diante dos feitos.
Sabes que sereias não vivem nunca sozinhas, mas só existem uma coisa que elas amam de verdade, o mar. E venho desconfiando que tu és meu mar disfarçado de gente. Tão claro e tão escuro, tão doce e tão salgado, tão leve e tão pesado ao mesmo tempo. Mas que inunda-me de paz quando me tens, que esqueço de qualquer outro ser que deseja tocar em minhas escamas, agora tão mais ásperas como nunca. Corajoso o que se arriscar em mim, por agora.
O fato é que tu me fez enxergar outras partes, me aproximar de minhas artes e amar sem alardes. Só lamento ter-me feito disso tão tarde, agora não sei mais se ainda sentirei suas águas hidratando minha pele, invadindo meus orifícios e arrancando-me sorrisos.
Eu estou feliz em terra, mas saiba, sempre irá bater a saudade profunda de nadar naquelas noites tempestuosas de samba e amor em você. Porque sonífero não é veneno, e se fosse, veneno não faz efeito em amor.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Nota mental sobre um balé.

No balé universal não há regras, apenas o equilíbrio. Tudo tende a uma coreografia natural, quem se perde dela está, possivelmente, em estado de desequilíbrio.
É nítido que na terra há seres humanos se dispersando de alguma parte dessa dança cósmica. Por algum motivo, ainda desconhecido, o balé se sacrifica por hora, pelos feitos terráqueos.
Mas, diante disso, coloco-me a pensar que os desequilíbrios são passos necessários dentro do todo. A dor gera crescimento, o mal é necessário, o que não deixa de ser natural, também, no processo evolutivo de todos os seres.
Então, o balé segue sendo perfeito.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

No banheiro..


cabelo            segredo            vomito            grito
banho             loucura             sono               água
choro             vontade          amor              saudade
música            palavra           revista           livro
sexo               silêncio            escrito           gemido
necessidade    pensar             cannabis         conversa
beijo             rock                criação          calma
maquiagem     sentimento       bala                demora
samba            suor                 perfume          língua
reflexo           vapor               ralo                 eco
mordida         ódio                canto               tombo
pele               azulejo             úmido             álcool