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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

fotografia da lua

Minhas fotografias. Eu, estando à frente ou atrás da câmera. São meu desabafo, minhas expressões jogadas nesta multidão estremecida, meu olhar à pureza de cada pequeno acontecimento ou gesto, que estão minguados por véus psicológicos.
A pureza até do escuro, da sombra onde nos escondemos, nos vestimos, montamos e despimos para ser quem queremos ser.
Eu me retorço e pego-os retorcendo seus corpos em busca de prazer, alguns chamam de paz. E quando não consigo distinguir o que já é bom ou ruim dentro da dor, eu estampo e a imagem que sai me acalma. Mesmo que não seja nítido o acontecido, a imagem se fez assim, e assim que ela é. Como a calma e o egocentrismo da lua, ninguém precisa dizer o que ela é e o que faz. Ela apenas esta lá, fazendo seu papel no equilíbrio da natureza, e o tempo a faz gloriosa pra nós sempre que escurece.
Minhas fotografias, como todas que existem ficarão eternizando momentos ali, sempre ali. Reparamos e a sentimos quando nos convém.
A crise nunca vai passar? Não sei, mas pelo menos é bela. Não que minhas felicidades não gerem beleza. Geram também. Mas costumamos apreciar mais o que vem da sombra, é mais intenso. Bem, eu que me retorça com as minhas angustias.

domingo, 28 de dezembro de 2014

monstros

Meus joelhos doem. Eles se recusam quando tento andar, protestam o caminho que tenho feito. Meus humores andam me assustando cada vez mais, tem dias que acordo com todos os ânimos e de repente, diante de qualquer olhar distraído eu travo. O pânico me prende dentro de um casulo instantâneo que crio e o pior é não conseguir definir o sentido disto, aliás, tudo perde sentido, fundamento e objetivo. A ignorância alheia me destrói por dentro, minha intolerância cresce diante de todos os defeitos, inclusive os meus, inclusive ser intolerante.
Alguém poderia me dizer como faz pra soltar as tensões, meus nervos e músculos duros me dão choque o tempo todo. Mas ninguém pode dizer, ninguém esta ciente da minha situação, a estampa que eles enchergam é da garota anti social, que há pouco estava sorridente e simpática. Então, só aquela menina estranha.
Eu estou insatisfeita, digo "estou" porque não quero ser, tenho esperança de só estar por enquanto. Mas esta insatisfação vem de tanto tempo que eu posso me enganar a vida toda, ou até encontrar alguma imperfeição que me satisfaça.
Fico tentando lutar com os monstros que habitam meu interior mas não tenho coragem de mata-los, depois de um tempo de convivência acho que criei algum prazer nessa relação para amenizar as torturas e camuflar os monstros, contra eu mesma, cultivando-os aqui dentro, idiotamente.
Meu desejo é não existir, nem morrer nem viver, apenas não ter existido no começo de tudo, ou do nada, um desejo aparentemente impossível mas ainda não parei de pensar nisto. Acreditar que toda existência tem um motivo e me cobrar o tempo todo o meu é o que mais me cansa.
Preciso de uma pílula de motivação pros meus joelhos.

domingo, 17 de agosto de 2014

pervertida(a)mente
perversa
vertida
invertida
ativa
ativa o susto
perverte
o surto
elege o gozo
o gozo, do mundo
masturba(a)ação doce, mental
lubrifica, anal
gozo elétrico
grito suado
grito calado
passagem astral
orgasmo com gosto de sal.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Amar, mas voar.

Me ame, mas lembre-se da paz que o amor nos trás. Não confunda desejo com propriedade, solte minha mão por um segundo, meu bem. Bastará para enxergarmos que podemos nos equilibrar sozinhos por mais tempo, para enxergarmos os caminhos que esperam por nosso voo, por nossa liberdade. Solte-a e sinta-se seguro, pois não importa em que altura pulemos ou distância percorremos, minha mente estará abrigada junto da sua, no mesmo toque, no mesmo jardim e nas mesmas noites chuvosas que nos persegue.
E quando sentires vontade novamente, segure minha mão bem forte por quanto tempo quiseres e sinta-se livre. Pra ir ou ficar, pra nos amar. Segure todo o resto se for oportuno, agarre minha boca, meu olhar e meus seios. Mas que seja por pura vontade, pois a necessidade muitas vezes, é pobre de razão, aquela razão que distingue todo o resto, do amor. Diriam que foi pouco tempo, mas o tempo parece se estender quando é profundo e tu sabes que já existe um lugar só nosso dentro um do outro.
Me ame como combinamos de amar os pássaros. Como resolvemos que só iríamos nos presentear com flores sem arrancar suas raízes. Como o vento que entra pela janela do teu apartamento de manhã. Como decidimos quebrar qualquer possível regra. Como desejamos captar toda a beleza do mundo com nossas lentes. Como quando bebemos vinho e dormimos à luz do dia, pra podermos contemplar a lua durante a noite. Pois te amo, como nós somos e sempre seremos, bichos soltos apaixonados por voar.

domingo, 3 de agosto de 2014

preencher o vazio...

De carne, minha alma está cheia.
De desejo, minha carne está cheia.
De estupidez, meu desejo está cheio.
De frio, minha estupidez está cheia.
De orgulho, meu frio está cheio.
De fogo, meu orgulho está cheio.
De amor, meu fogo está cheio.
E de alma, meu amor está cheio.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Nato

faço-me silêncio
e assim vivo
a observação me mantém em pé
é que nos maiores dias:
eu só sobrevivo.
com frequência cambaleio
entre o ódio e a calma
eles afagam meu anseio
de buscar a cura para tudo que me vem
para a alma.
busco luz
para além da vaidade
me faço luz
para todos os efeitos:
liberdade!

terça-feira, 6 de maio de 2014

ausência

Não sei escrever o que é ficar tentando se achar num labirinto que criei dentro dentro de mim sem perceber. "Mas o que é isto? Mas como aquilo?" Fico perguntando. É como acorrentar as próprias pernas querendo correr. Não tem cabimento, não tem lógica. E que cabimento deveria ser? Como devo caber e descaber no mundo? Qual meu espaço por aqui? Ou seria, por ali?
Não, não! Eu mesma criei isto, porque é tão difícil me achar dentro das paredes de minha própria construção?
Ah, mas que pobreza de respostas.
Sei que elas devem chegar no tempo certo, mas não to achando mais buracos pra enfiar as aflições, deve ser porque estou andando em círculos aqui no labirinto e já tampei todos os disponíveis nessa região. Tenho a leve impressão de que estou passando sempre por alguma portinha mais miúda e deixando a preguiça me impedir de repará-la.
Oh céus! O mundo precisa de mais sorrisos e menos praticidades. Isto me machuca.
E não conseguindo sorrir, acabo encostada num corredor repetido, pra poupar o mundo de mais melancolia.
É neste momento que bate o frio...

quinta-feira, 24 de abril de 2014

a flor


eu foco na beleza escondida
nos pequenos porões
do mundo
pois dele, já estive muito aflita
eu foco na flor
de delicadeza duvidosa
hoje sei que existem potenciais
se escondendo por aí
em mesquinhas decepções
amorosas.
Potênciaaaal!
um dia gritaram para eu enxergar
então, eu cuidei do meu 
e agora, dos outros eu olho
eu os trago pro centro
para brilhar.
eu os amo e deixo
para que eles possam se encontrar
à seu tempo
como eu, em meu tempo
ignorei o azar.
me mostrei aos poucos
o ser que aqui, agora está
e torcendo pra que a flor
um dia, uma vez
também queira se encontrar.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Luz baixa, embriaguez.

Nas flores ali estampadas, ela se jogou, nos braços dele se derramou e nunca mais quis sair, se lambuzou com o mel daqueles olhos vivos, se perdeu no enrolar daqueles caxos... aqueles caxos. Cegou-se ao sentir o toque daquelas mãos claras e pegajosas, pensou em um momento fugir, mas já não podia, havia se viciado no gosto pesado, no rosto, no aroma suave a na textura das cicatrizes, mal sabia ela quantas mais viriam, se demorando ali... No gosto de café da boca alheia.
Então, ficou, foi se deixando, se arriscando, acumulando. Sentindo. E assim foi vivendo isto num tempo que pareceu mais uma vida isolada dentro da sua. Ela pulou! Se jogou no que parecia flores, mas a luz era um tanto baixa, deixando tudo mais aconchegante, escondendo a parede fria, não dava pra enxergar com tanta certeza a estampa da colcha. Depois já não importava, se eram mais galhos do que flores, ela não sabia mais diferenciar, se sabia, fez questão de esquecer. Pois, ao se jogar naquela cama, se esqueceu do resto que lhe dizia respeito. Embalou os olhos, se empinou, se encolheu, foi pegada, desejada, lavada com saliva ácida. Arranhou, cravou, gemeu e escorregou. Comeu, abriu, gritou, calou, parou de respirar...
Enfim, gozou e morreu encostada no gelo da parede.

domingo, 20 de abril de 2014

autodiálogo maneiro

- Está difícil de voltar pro lugar? Olhe novamente. Vai ver... foi pro lugar que lhe cabe melhor agora. A mente muda de forma. Nem toda fase é fase, algumas mudanças são definitivas. Vai ver... reviveu! Se martirize não, menina! Tenha paciência pra não fazer besteira (aí porra, hoje eu tô maneira)!
Certo que a vida é um remelexo infinito, com nossos apegos, depois desapego, estrimilique, depois sossego. Mas ela é assim, esta bem? A vida. O que seria de nós sem o nó de nós mesmos? Acontece que nesses rodopios fluorecentes, vamos mudando de lugar e é normal se deparar de repente com alguém bem diferente do que se foi à um ano ou à cinco minutos atrás. Mas é bom, não dá pra ser constante por aqui. Acho que nem por alí. Não me soaria saudável...

- Sim, já sei, agora cala a boca e dorme, parece que fumou.

- É o sono, mas estou consciente do que estou falando.

- Sim, já sei.

- Rebelde sem causa.

- Sim, já sei.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Bloqueio

aí vem aqueles dias de inspiração que só!
tem até que correr antes que chegue a crise criativa
e deixa tudo meio, assim, velado.
pinta, borda, prende, solta
e depois de acabado...
ai! parece que não tem mais vida, dá um vazio
por isso, eu digo
não há arte que se afunda
por isso, eu ouvi por aí
antes arte do que nunca.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Assumir tua parte na doença do mundo.

É só parar e reparar, o planeta pede calma, pras doenças da alma. A natureza está aflita, nós mesmo somos isto, estamos o tempo todo arrepiados pra lá e pra cá em busca de sabe lá o que...
Ora, queridos, são tantas coisas que parecem ser desnecessárias, mas quem prova que realmente é? Antes da ordem vem a desordem, e me desculpem, em nossas condições terrestres, acredito que isso tem sido mais que necessário. Dá revolta, dá! É uma merda em cima da outra que acontece pra nos afligir mais ainda. Tem que protestar, tem! Mas no meio disso tudo, vem a confusão, do que eles fazem, com o que devemos e com o que queremos fazer. Não adianta reclamar, fazer algo superficialmente e não olhar pra dentro do problema, que muitas vezes está em nosso interior. Nada se estabelece por fora se antes não for tratado por dentro. Muitas vezes pensei que era urgência, mas agora sinto que tudo aqui precisa de paciência. Lutemos, mas tenhamos paciência com aqueles que ainda demoram à enxergar o estrago que fazem, e antes de gritarmos para eles, gritemos pra dentro de nós. Além de campanhas com cartazes e protestos públicos, eu me pergunto e pergunto à todos, como tu cuida de si? O que tu és para si antes de ser para os próximos? Ninguém vai curar a doença do mundo, estando nele sem nem saber como cuidar de tuas próprias enfermidades.

sábado, 22 de março de 2014

No parque.

À minha frente tem uma árvore, eu não faço a mínima ideia de qual seja a sua espécie, mas gosto dela. É pálida e larga pela divisão do tronco logo no começo, não muito alta, o suficiente. Atrás dela tem uma mais fina com seus galhos jogados para o lado, parece que irá girar a qualquer momento num gracioso balé. A terceira na sequência, é mais jeitosa e parece estar sorrindo o tempo todo. Já a primeira não, é reservada e tem um ar de mistério, tão fechada que nem da pra decifrar o que se passa ali.
E tem também o pato na beira do lago. Acorda, levanta, se coça com o bico, bebe água. Dorme de novo, levanta, olha pro lado, bebe água, coça, dorme. Suas patinhas laranjas são um chame que só vendo, parece tão vida boa, mas vá saber de sua rotina por aqui, né? (...) Tem duas formigonas me rodeando faz um tempo, elas são atrapalhadas, mas muito bonitinhas. Este gramado está tão bom!
É, tanta coisa boa pra amar e a gente cisma com as mais complicadas, parece que essas são mais belas interiormente... hm, o mistério que traz a sedução. Como se a árvore pálida e distraída pedisse para eu observá-la de alguma forma, e com isso, me cativa. Talvez eu esteja pedindo pra alguém me observar também, aqui sozinha, em quanto contemplo outro ser. Mas é involuntário, difícil de entender, o oculto chama-nos em silêncio.

terça-feira, 11 de março de 2014

Asa de ser.

Um certo mal aparece quando se camufla asas próprias, querendo voar com alheias. Asas essas, que pretensiosamente criaram como imagem correta, mas é oco, é plástico, é vazio de perfeição, mesmo chamado com este nome. São asas menores, feitas em formas padrão, para que não enxerguemos as reais, essas chamadas de imperfeitas e defeituosas. Para que não voemos muito distante no mundo, nem voemos muito para dentro de nós. 

Mas não, a natureza não é imperfeita, imperfeito é o julgamento que se faz dela, que se faz de nós, somos ela.
Se não tem amor de dentro, de fora que não será!
Hoje resolvi olhar-me no espelho, não só o reflexo habitual que enxergo, mas o interior que termina no exterior, tudo de fora é reflexo do que vem de dentro. E consegui amar, amar o mapa, mapa de meu ser. Mapa feito, perfeito, de linhas e pintas, manchas e mordidas. Pele.

Pele que escorre por todo meu corpo, marcada por ossos. Linhas das curvas, pintas de caminhos, manchas do que me derramo, mordidas da vida. Querida. Ser misterioso, lavado, vezes trancado, vezes brechado. Que já penou, penou para reconhecer-se, para aceitar-se, penou em reconhecer as penas de sua própria asa. Pena, pele, pelada, corpo, solto, louco de sua própria existência. Mas, que lavou-se.

Sim, lavo-me, lavo-me de toda sujeira que vem camuflando-me, dispersando-me de meu eu. O padrão da vida é despadronizado, é desengonçadamente equilibrado. E não é só tocar o famoso foda-se e fingir que esta bem, mas sim estar realmente bem com o que tem, com o que é. Mais do que foda-se, tocar o curto-me. Verdadeiramente. 

E chorei, me inundei de emoção pela satisfação de ser parte disso tudo, do fluxo, absurdo e beleza da natureza deste mundo. A delicadeza das partes corporais que formam-se, deformam-se e tomam forma novamente durante o processo de viver. Pela satisfação de enxergar-me como sou e estou, querendo ser, assim mesmo. Desafiada todos os dias pelas falsas formas que querem nos enfiar goela abaixo, ter orgulho e controle sobre minhas verdadeiras asas, voando com meu corpo, lindo e solto, por onde quiser. 

quinta-feira, 6 de março de 2014

Aos 18

Aos poucos eu cresci até aqui. E por esses dias eu percebi que sem pressa e nem força, natural como tem de ser, veio o deleite do serMe vi por inteiro. Depois de alguns instantes fechei os olhos e mergulhei em meu eu até... uma melhor compreensão do aqui. Percebi que as últimas crises eram feitas de sentidos alheios confundidos com os próprios, os meus.
O melhor saber é o foco interior, e foi nele que eu mergulhei, uma íntima loucura.
 Doença ou cura? Me parece que traz sentido às coisas, algumas que parecem tão óbvias agora, tão bobas.
Mas sentido demais da erro? Da erro, de vez em quando um louco pira, e aí olham dizendo: "Esta vendo? Mais um, isso que da querer mudar o mundo, querer chamar atenção!"
Ah, não, nem tudo precisa fazer sentido imediato, só precisa vir do íntimo, e se vem dele é natural, faz sentido. E quem não quer mudar o mundo? É preciso as vezes chamar atenção sim, mas pra não pirar, a mudança tem que ser feita por dentro. É lento.
Não que a loucura seja saudável, um dia talvez, mas pelo que me parece a condição humana ainda não permite conhecimentos de algum certo nível, sei lá que nível! Vai ver, não sabemos lidar, apenas
.
Mesmo assim me parece mais cura, uma coisa assim, mais profunda, intensa e gostosa, apesar das crises, essas que agora me vem sendo de forma diferente das anteriores, não são mais por outros, mas por realidade pessoal. Reconhecimento. Me lembro dessas quando criança, era difícil, parecia quase impossível acreditar no que eu era, tudo vai tomando forma com o tempo. 
E aí, penso, a cada segundo eu sou um pouco de tudo que corre no meu sangue, um pouco de tudo que respiro, de tudo que vejo, sinto, lambo e mordo. De descendências, experiências e vocação, sou.
Branca de traços, morena de sol. Índia da terra, sereia do mar. Menina de mainha, de painho
, de amore. Sou dos homens et les femmes, mas antes, minha. Protegida por Sarasvati, filha de Iemanjá. Sorriso que vem do sol, olhar que vem da lua. Sou macho, sou mulher! Sou parte da essência integral do universo e rainha de um mundo só meu.

A depressão é loucura mal lidada de auto-descobrimento, a cura é a compreensão de ser, traz naturalidade e amor, de dentro pra fora. De dentro pro centro, do universo pra si.


Muita pretensão enlouquecer? Não, muita pretensão achar que vive-se bem sã.
Ah!

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Confissão de Merrow.

Esta bem, eu concordo, estamos melhor assim. Pelo menos me sinto mais leve nos últimos meses. Aquela última palavra foi o balde de água doce, o soco no estômago, a facada no peito, o tapa na cara. Mas o tapa mais necessário. Sem isso eu não enxergaria de fora tantos equívocos feitos por mim, lá dentro do que possivelmente fomos nós. Quando se ama uma vez, isso nunca morre mesmo, o que morre são as pessoas dentro de nós, não é?  Durante toda a vida. Só que a pessoa que te ama aqui dentro insiste em ficar viva, então eu tenho que injetar diariamente um sonífero na veia dela, assim da pra aliviar um pouco esse peso que é a saudade. É claro que sinto vontade de contar-te as novidades, compartilhar recentes realizações, talvez nem todas te animaria, mas essas não existiriam se estivesses aqui. Porém, isso não importa, o que aconteceu não muda e o jeito é viver diante dos feitos.
Sabes que sereias não vivem nunca sozinhas, mas só existem uma coisa que elas amam de verdade, o mar. E venho desconfiando que tu és meu mar disfarçado de gente. Tão claro e tão escuro, tão doce e tão salgado, tão leve e tão pesado ao mesmo tempo. Mas que inunda-me de paz quando me tens, que esqueço de qualquer outro ser que deseja tocar em minhas escamas, agora tão mais ásperas como nunca. Corajoso o que se arriscar em mim, por agora.
O fato é que tu me fez enxergar outras partes, me aproximar de minhas artes e amar sem alardes. Só lamento ter-me feito disso tão tarde, agora não sei mais se ainda sentirei suas águas hidratando minha pele, invadindo meus orifícios e arrancando-me sorrisos.
Eu estou feliz em terra, mas saiba, sempre irá bater a saudade profunda de nadar naquelas noites tempestuosas de samba e amor em você. Porque sonífero não é veneno, e se fosse, veneno não faz efeito em amor.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Nota mental sobre um balé.

No balé universal não há regras, apenas o equilíbrio. Tudo tende a uma coreografia natural, quem se perde dela está, possivelmente, em estado de desequilíbrio.
É nítido que na terra há seres humanos se dispersando de alguma parte dessa dança cósmica. Por algum motivo, ainda desconhecido, o balé se sacrifica por hora, pelos feitos terráqueos.
Mas, diante disso, coloco-me a pensar que os desequilíbrios são passos necessários dentro do todo. A dor gera crescimento, o mal é necessário, o que não deixa de ser natural, também, no processo evolutivo de todos os seres.
Então, o balé segue sendo perfeito.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

No banheiro..


cabelo            segredo            vomito            grito
banho             loucura             sono               água
choro             vontade          amor              saudade
música            palavra           revista           livro
sexo               silêncio            escrito           gemido
necessidade    pensar             cannabis         conversa
beijo             rock                criação          calma
maquiagem     sentimento       bala                demora
samba            suor                 perfume          língua
reflexo           vapor               ralo                 eco
mordida         ódio                canto               tombo
pele               azulejo             úmido             álcool 


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Árvore!!

É uma razão estar morto, é uma ilusão essas coisas de corpo. Uma confusão ser, aqui na terra sabe? Viver pra tentar um dia transcender e sentir algo a mais do que essa planta bacana me causa. Fazer por ritual, não por causal. Comer por missão, não por inquietação. Toda essa aflição me julga, e deitada neste pano amarelo me coloco a pensar, viajar. É tanta brisa, é tanto choro, é tantos deuses, é tanto couro que levo de mim que meus olhinhos nem querem abrir, aperto eles até virar uma árvore, e imagino que sou, dentro desta escuridão de pálpebras. Eu faço disso tão necessário, até da pra sentir minhas possíveis folhas balançando, um alívio de ser outro ser que não seja eu, com essa brisa leve me balançando na rede e...
Jogada na rede velha de balançar, enxergo o escuro da noite mesmo. Até queria poder ficar trancada dentro do tronco por mais uns dias, mas não tenho essa habilidade (ou coisa de louco) ainda, sei lá, viver de prana. Então o que me resta é jogar as mãos ao alto pedindo verdes que me curem. Quanta emoção! Até eu cair pra trás, quanto desajeito, Jesus.