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sábado, 22 de março de 2014

No parque.

À minha frente tem uma árvore, eu não faço a mínima ideia de qual seja a sua espécie, mas gosto dela. É pálida e larga pela divisão do tronco logo no começo, não muito alta, o suficiente. Atrás dela tem uma mais fina com seus galhos jogados para o lado, parece que irá girar a qualquer momento num gracioso balé. A terceira na sequência, é mais jeitosa e parece estar sorrindo o tempo todo. Já a primeira não, é reservada e tem um ar de mistério, tão fechada que nem da pra decifrar o que se passa ali.
E tem também o pato na beira do lago. Acorda, levanta, se coça com o bico, bebe água. Dorme de novo, levanta, olha pro lado, bebe água, coça, dorme. Suas patinhas laranjas são um chame que só vendo, parece tão vida boa, mas vá saber de sua rotina por aqui, né? (...) Tem duas formigonas me rodeando faz um tempo, elas são atrapalhadas, mas muito bonitinhas. Este gramado está tão bom!
É, tanta coisa boa pra amar e a gente cisma com as mais complicadas, parece que essas são mais belas interiormente... hm, o mistério que traz a sedução. Como se a árvore pálida e distraída pedisse para eu observá-la de alguma forma, e com isso, me cativa. Talvez eu esteja pedindo pra alguém me observar também, aqui sozinha, em quanto contemplo outro ser. Mas é involuntário, difícil de entender, o oculto chama-nos em silêncio.

terça-feira, 11 de março de 2014

Asa de ser.

Um certo mal aparece quando se camufla asas próprias, querendo voar com alheias. Asas essas, que pretensiosamente criaram como imagem correta, mas é oco, é plástico, é vazio de perfeição, mesmo chamado com este nome. São asas menores, feitas em formas padrão, para que não enxerguemos as reais, essas chamadas de imperfeitas e defeituosas. Para que não voemos muito distante no mundo, nem voemos muito para dentro de nós. 

Mas não, a natureza não é imperfeita, imperfeito é o julgamento que se faz dela, que se faz de nós, somos ela.
Se não tem amor de dentro, de fora que não será!
Hoje resolvi olhar-me no espelho, não só o reflexo habitual que enxergo, mas o interior que termina no exterior, tudo de fora é reflexo do que vem de dentro. E consegui amar, amar o mapa, mapa de meu ser. Mapa feito, perfeito, de linhas e pintas, manchas e mordidas. Pele.

Pele que escorre por todo meu corpo, marcada por ossos. Linhas das curvas, pintas de caminhos, manchas do que me derramo, mordidas da vida. Querida. Ser misterioso, lavado, vezes trancado, vezes brechado. Que já penou, penou para reconhecer-se, para aceitar-se, penou em reconhecer as penas de sua própria asa. Pena, pele, pelada, corpo, solto, louco de sua própria existência. Mas, que lavou-se.

Sim, lavo-me, lavo-me de toda sujeira que vem camuflando-me, dispersando-me de meu eu. O padrão da vida é despadronizado, é desengonçadamente equilibrado. E não é só tocar o famoso foda-se e fingir que esta bem, mas sim estar realmente bem com o que tem, com o que é. Mais do que foda-se, tocar o curto-me. Verdadeiramente. 

E chorei, me inundei de emoção pela satisfação de ser parte disso tudo, do fluxo, absurdo e beleza da natureza deste mundo. A delicadeza das partes corporais que formam-se, deformam-se e tomam forma novamente durante o processo de viver. Pela satisfação de enxergar-me como sou e estou, querendo ser, assim mesmo. Desafiada todos os dias pelas falsas formas que querem nos enfiar goela abaixo, ter orgulho e controle sobre minhas verdadeiras asas, voando com meu corpo, lindo e solto, por onde quiser. 

quinta-feira, 6 de março de 2014

Aos 18

Aos poucos eu cresci até aqui. E por esses dias eu percebi que sem pressa e nem força, natural como tem de ser, veio o deleite do serMe vi por inteiro. Depois de alguns instantes fechei os olhos e mergulhei em meu eu até... uma melhor compreensão do aqui. Percebi que as últimas crises eram feitas de sentidos alheios confundidos com os próprios, os meus.
O melhor saber é o foco interior, e foi nele que eu mergulhei, uma íntima loucura.
 Doença ou cura? Me parece que traz sentido às coisas, algumas que parecem tão óbvias agora, tão bobas.
Mas sentido demais da erro? Da erro, de vez em quando um louco pira, e aí olham dizendo: "Esta vendo? Mais um, isso que da querer mudar o mundo, querer chamar atenção!"
Ah, não, nem tudo precisa fazer sentido imediato, só precisa vir do íntimo, e se vem dele é natural, faz sentido. E quem não quer mudar o mundo? É preciso as vezes chamar atenção sim, mas pra não pirar, a mudança tem que ser feita por dentro. É lento.
Não que a loucura seja saudável, um dia talvez, mas pelo que me parece a condição humana ainda não permite conhecimentos de algum certo nível, sei lá que nível! Vai ver, não sabemos lidar, apenas
.
Mesmo assim me parece mais cura, uma coisa assim, mais profunda, intensa e gostosa, apesar das crises, essas que agora me vem sendo de forma diferente das anteriores, não são mais por outros, mas por realidade pessoal. Reconhecimento. Me lembro dessas quando criança, era difícil, parecia quase impossível acreditar no que eu era, tudo vai tomando forma com o tempo. 
E aí, penso, a cada segundo eu sou um pouco de tudo que corre no meu sangue, um pouco de tudo que respiro, de tudo que vejo, sinto, lambo e mordo. De descendências, experiências e vocação, sou.
Branca de traços, morena de sol. Índia da terra, sereia do mar. Menina de mainha, de painho
, de amore. Sou dos homens et les femmes, mas antes, minha. Protegida por Sarasvati, filha de Iemanjá. Sorriso que vem do sol, olhar que vem da lua. Sou macho, sou mulher! Sou parte da essência integral do universo e rainha de um mundo só meu.

A depressão é loucura mal lidada de auto-descobrimento, a cura é a compreensão de ser, traz naturalidade e amor, de dentro pra fora. De dentro pro centro, do universo pra si.


Muita pretensão enlouquecer? Não, muita pretensão achar que vive-se bem sã.
Ah!